Quando falo "tá aqui" o pessoal diz: " - Não achei Fabinha". Resolvi, portanto, encurtar. Reeditei o texto, O Pandeiro no qual eu conto como aprendi a tocar este maravilhoso instrumento.
O PANDEIRO
Com tantas barbáries de notícias do mundo afora nada melhor, para abrandar estes furacões de pessimismos sócio-econômicos do dia-a-dia do que quebrar, o clima, ouvindo uma boa música. No meu caso, o samba. Este, participa em todas as etapas de minha vida...A nanica, aqui, nos seus 13, 14 anos era presenteada, pelo meu pai, com LPs de Chico Buarque, Beth Carvalho, Martinho da Vila, João Nogueira e outros segmentos musicais, que não vem ao caso falar. Amava ouvir e ficar interpretando aquele som do cavaco, surdo e pandeiro. E por falar em pandeiro é a ele que vou falar neste post. A primeira vez que ousei tocar este instrumento foi em meados de 88/89. Não foi propriamente pelo samba e, sim, quando ingressei sorrateiramente na capoeira. Conheci um senhor, figuraça da capoeira de Angola que acompanhou minuciosamente meu encantamento pelo barulhinho das platinelas. Atencioso, foi com muita paciência me apresentando os inúmeros toques do pandeiro. Ali passei, sem perceber, que ele faria parte de minha vida e de minha musicalidade. Levou pouco tempo para eu adentrar no mundo da capoeira com muita dedicação no ano de 1993. Foram exatos sete anos de treinos a este esporte que junta luta, história da ânsia de liberdade do negro e músicas com verdadeiros relatos da Vida e da escravidão. Era iniciar a roda, no caso, se não estivesse jogando, que buscava o pandeiro para dar meus tapinhas sonoros de xequendém. E foi em 1999, quando abandonei, de vez, a capoeira que conheci o Mundo do Samba. Não tinha a menor idéia que, em Porto Alegre existiam tribos ferrenhas samba de raiz. Curiosa, como sempre, fui a legítima aprendiza do samba. Freqüentava uma roda daqui; outra dali, todos os finais de semana. E ali observava e, novamente, observava as leves batidas que alternavam o polegar do resto dos outros dedos. Como já tocava um pouquinho devido aos sete anos de capoeiragem fui, de mansinho, tendo de “apadrinhamento”, a amabilidade dos músicos da Velha-Guarda como a minha oficial escola. Inexplicavelmente eu estava entregue ao mundo da cultura negra. Até tentei em 1999 aprender Cavaquinho. Fiz sete gloriosos meses de aulas de cavaco com o professor Luiz, do Grupo Reminiscência e, também, na falida(falida sim, nem pagavam os professores!), Predigger. Em seguida, “abortei a missão” escolar das cordas. Confesso que sacudo os bolsos de moedas para voltar a tocar este gracioso instrumento. Haja dinheiro... Inclusive estou trabalhando a hipótese do Alemão Charles ser meu novo professor. Os anos passaram, alguns mais tênues, parcos na dedicação ao samba e, outros mais intensos. Meu retorno avassalador, “mulçumano” foi em 2005. Segundo os cariocas, Virou religião.Fico literalmente pazeada com o samba e sua riqueza musical. Não consigo nem ficar na babalize do dia seguinte pois, acordo e quero sempre mais. Empertiguei-me a tudo! Viciei em tocar o meu pandeiro, sempre. Enfim, tornou um vício cantar e tocar com os carinhosos Babalaôs do samba gaúcho.Ultimamente, esta minha dedicação tem me presenteado com retornos verbais de sambistas “de responsa”. Alguns músicos da velha-guarda Itinerante, João Sete Cordas são o exemplo deles... Eles andam elogiando ou, mesmo, se surpreendendo com a minha “fome em aprender”. Isto, para mim, é mais que fluoxetina das palavras, é alegria total! 2006 está bom demais! Toquei com a madrinha Beth Carvalho na mesa com a Banda Itinerante e, gradativamente, estou sendo reconhecida mais e mais como uma musicista do samba. Faz bem para o ego e, ao mesmo tempo, sinto uma certa vitória em prol das mulheres. Quebrei protocolos do machismo gaúcho de rodas de samba. Sim, isto, ainda é bem forte aqui no Sul, diferente do Rio de Janeiro e São Paulo onde é comum a emancipação feminina nas confrarias sambísticas. Escrevendo isto, acabo relembrando minhas primeiras manifestações pandeirísticas em rodas. Tudo era surpresa para os discípulos de Cartola ver eu tocando. Primeiro por ser branca; depois por ser mulher. No começo, eles não entendiam como aquele ‘pingo branco” se metia nas rodas...Agora isto não é mais problema! Inclusive, observo que tem surgido vez que outra, uma menina tocando pandeiro. Graças a Deus nunca houve rivalidade entre mulheres musicistas! Diferente de certas facções de grupos que se negam a integração de uma biota única.E o reconhecimento? É gratificante entrar num bar ou mesmo, numa quadra de escola de samba e ser cumprimentada, por seres nunca vistos, que chegam para mim, elogiando ou falando apenas um simples “e ae pandeirista!”!!! Compensador... O mês de maio e junho provou que algo mudou!É tocando meu pandeiro que me abduzo de tudo ruim.É com o meu pandeiro que extermino meus pensamentos negativos.É tocando e cantando que dou vazão a alegria e a paz orgásmica que vale a pena, SIM, viver!
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